9/8/2007 44 anos de socos e pontapés | |
As marcas, ela escondia do mundo. Trancou-se em casa. Lacrou a fala. Não deixou os vizinhos saberem o que lhe acontecia. Nem os parentes conheciam os maus tratos. Se alguém aparecia em sua propriedade, ela se refugiava no quarto. Corria. Saía da vista alheia. Os poucos que descobriam a encorajavam. A agüentar. Esperava o roxo da pele desaparecer no tempo. Ficou em depressão por dez anos. Deixou de tomar banho. Parou de comer. Emagreceu. Perdeu a vivacidade dos cabelos que tanto a encantava na juventude. De longos passaram a curtos e fracos. Por várias vezes, pensou que ia morrer. O espancamento também vitimou a única filha que teve.
Das Dores deixou o trabalho por imposição do ex-marido. Analfabeta e sem fonte de renda, não criou coragem para largá-lo. “Eu e minha filha morreríamos de fome”. A redenção só veio há três anos. O ex-companheiro morreu em decorrência de complicações cardiovasculares. Ela o amava. E acreditava ser correspondida. Providenciou o enterro. “Até a roupa dele eu engomei”. Das Dores deixa um conselho a quem, agora, enfrenta o que ela enfrentou: “Não agüentem. Lutem por vocês”.
A integrante do Centro de Defesa das Mulheres de Palmares, Mauricéia Cordeiro da Silva, diz que os homens ainda não aceitam a emancipação feminina. “Eles acham que elas não têm direito. Há os que acreditam que a lei (Mariad a Penha) se trata de uma brincadeira. As mulheres são destruídas sexual, psicológica e fisicamente”, observa. Para ela, a ruptura com a violência se torna difícil a partir da situação social da vítima. “O homem é o esteio da casa. Ainda existem os filhos e a família que cobra. Mas a Maria da Penha veio para assegurar que podemos existir”, acredita.
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