segunda-feira, 21 de julho de 2008

Deficientes do Cabo buscam acessibilidade até à cidadania

Deficientes do Cabo buscam acessibilidade até à cidadania
Acesso à educação é um dos grandes problemas enfrentados por deficientes físicos.
MONLIZA BRITO

Para entender melhor os problemas enfrentados por cidadãos portadores de deficiência física, em seu dia-a-dia e, dessa forma, alertar às autoridades, o jornal Tribuna Popular conversou com dois deficientes físicos do Cabo de Santo Agostinho, Daniel Xavier de Moura e Maria José da Silva. A reportagem não teve acesso a dados recentes, mas, segundo estatísticas de 1998, 17% da população local apresentam algum tipo de deficiência física. A primeira dificuldade apontada é facilmente identificada por qualquer pessoa, e não prejudica apenas os deficientes. A questão da acessibilidade afeta também outros grupos da população como idosos e gestantes. Tudo parece difícil para quem tem restrições de locomoção: as repartições públicas do município não têm rampa, a maioria dos bancos, escolas, agências do correio, casas lotéricas e estabelecimentos comerciais também não. Transporte acessível, então, é uma questão de sorte. De acordo com Daniel, a empresa São Judas Tadeu, responsável pelas principais linhas que ligam o Cabo ao Recife, conta com apenas dois ônibus preparados para atender pessoas com necessidades especiais. CALÇADAS Outro problema sério no que se refere à acessibilidade é a falta de respeito de alguns moradores com relação ao recuo obrigatório das calçadas. Nos bairros de Ponte dos Carvalhos e Pontezinha, por exemplo, é comum encontrar casas que não respeitam a metragem obrigatória de 1,20m de faixa livre e contínua que deve ser reservada em frente à construção para a calçada, forçando as pessoas a transitarem no acostamento ou mesmo na rua. Isso sem falar nas calçadas que existem, mas estão esburacadas, dificultando a passagem de cadeirantes e até mesmo de quem transita com sapatos de salto. "Preparar as calçadas para receberem deficientes não beneficia apenas os deficientes", conta Daniel. "A acessibilidade de um cadeirante pode ser tomada apenas como referencial. Se um cadeirante circula bem em uma calçada, qualquer pessoa também circula, incluindo idosos, crianças, pessoas com carrinhos de bebês, mulheres que andam de salto", explica ele. EDUCAÇÃO Maria chamou a atenção para outro problema: a educação pública. Segundo ela, embora a inclusão de deficientes esteja "na moda", os profissionais não estão preparados para receber esses alunos, em parte por causa de falhas do sistema que afetam a todos, e não se limitam ao município do Cabo. "Em uma sala com 40 alunos, como oferecer atendimento diferenciado a quem precisa?", questionou ela. "Inclusão não se limita a matricular os alunos, é preciso dar condições aos profissionais para integrar os alunos deficientes na dinâmica da escola", enfatiza Maria. E há ainda, conforme conta Maria, aqueles que não podem ir até a escola, pois não têm condições físicas de locomoção ou de permanecer sentado durante cerca de quatro horas nas aulas. "Essas pessoas querem estudar e merecem uma oportunidade. Uma opção para elas seria um `professor itinerante', que desse aulas na casa do aluno", sugere ela. O acesso aos cursos de arte também é complicado. A escola de música de Ponte dos Carvalhos, por exemplo, tem uma escada que funciona como fator excludente para algumas pessoas.

EM BUSCA DA DIGNIDADE
SAÚDE E quem enfrenta dificuldades para ir à escola, também enfrenta problemas para chegar aos postos de saúde na busca por atendimento médico. Tanto no que se refere ao acesso, quanto no atendimento. "As pessoas não estão preparadas para lidar com deficientes", desabafa Daniel. Daniel apresentou uma sugestão para avançar na luta pela defesa dos direitos da pessoa deficiente: "Só quem sabe as necessidades da pessoa com deficiência é o próprio deficiente. É preciso uma maior participação do grupo na discussão de políticas públicas que nos beneficiem. As propostas devem ser discutidas `com' os deficientes e não apenas `para' eles". Para ele, atitudes relativamente simples poderiam fazer uma grande diferença. "Manutenção de calçadas, instalação de sinais de trânsito com alerta sonoro, treinamento em linguagem de sinais para profissionais que prestam atendimento ao público. São pequenos passos que podem ajudar muito a vida de quem possui alguma deficiência e proporcionar uma melhora na qualidade de vida geral, respeitando as especificidades de cada um", finaliza Daniel. Leia, no box ao lado, uma carta elaborada por representantes dos deficientes do Cabo para os atuais candidatos a prefeito da cidade
Nos bairros de Ponte dos Carvalhos e Pontezinha, por exemplo, é comum encontrar casas que não respeitam a metragem obrigatória de 1,20m de faixa livre e contínua que deve ser reservada em frente à construção para a calçada, forçando as pessoas a transitarem no acostamento ou mesmo na rua.
Carta aos candidatos a prefeito nós que fazemos a associação das Pessoas com Deficiência
de Ponte dos Carvalhos, vimos por meio desta pedir ao próximo prefeito que:

1) Elabore políticas públicas para as pessoas com deficiência;
2) Priorize o atendimento na saúde para os deficientes, disponibilizando também atendimento
domiciliar para aqueles com dificuldades de locomoção que os impeça de se dirigir ao posto de saúde;

3) Disponibilize transporte para tratamento de saúde, lazer, esporte e cultura, a exemplo do que ocorre em cidades como Vitória no Espírito Santo;
4) Proceda com adequação dos espaços públicos para acesso das pessoas com mobilidade reduzida;
5) Treine os servidores públicos em Libras (Linguagem Brasileira de Sinais);
6) Ofereça o sistema de alfabetização itinerante (domiciliar) para pessoas com deficiên
cia que as impossibilite de assistir aulas em uma escola comum;
7) Disponibilize 5% dos conjuntos habitacionais construídos pela prefeitura para
famílias com deficientes físicos que não têm moradia;
8) Crie a Coordenadoria Municipal da Pessoa com Deficiência, fazendo com que a mesma seja ocupada por deficientes;
9) Reserve 10% das vagas de todos os cursos profissionalizantes para pessoas com deficiência;
10) Disponibilize aparelhos ortopédicos através das Secretarias de Saúde e Programas Sociais;
11) Reserve vagas de estacionamento para pessoas com deficiência física;
12) Torne público os orçamentos das Secretarias de Saúde, Educação, e Programas Sociais.

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